Street League é chato e não me representa como skatista

10/04/2013

O skate moderno é, realmente, diferente. É mais acessível e mais “legal” aos olhos da sociedade não-skatista, facilitando a entrada de jovens no esporte. Há, claro, um glamour maloqueiro do skate que atrai muito a garotada que, só de usar um boné para trás, já acham uma barreira em casa, mil perguntas surgem e os pais começam a perceber que o lifestyle skatista influenciou seus filhos. Isso acontece, assim como aconteceu na minha casa e na casa de muitos outros. A juventude adora isso, adora ser a causadora de polêmica e, convenhamos, não tem esporte mais polêmico do que o skate.

Porém, há um outro skate atual que segue essa mesma popularização e destoa de todo movimento libertário do skatista: o skate milionário.

É muito doido, enquanto grandes marcas genuínas de skate vão à falência, outras que nunca pensaram em fazer material “skatável” começam a fazer seus times milionários, inclusive com sobras dessas marcas falidas. Só de pensar que não existe mais a éS e  que a Saucony pode começar a ter um time de skate, isso me embrulha o estômago.

O skate se tornou tão agradável, mercadológico e economicamente falando, que grandes marcas de outros segmentos começaram a pipocar no nosso dia-a-dia. Quem iria imaginar que até mesmo a força aérea americana patrocinaria o campeonato mais caro de skate do mundo? Foi o que aconteceu com o Street League ano passado.

Ah, o Street League… Nunca fui fã de campeonatos pois sempre quis, para mim, um skate livre de cobranças e de tempos. 1 minuto para fazer minhas manobras, criar uma linha, repetir percursos… pra mim isso não é skate e nunca foi. Ricky Oyola e Mike Vallely são uns dos meus favoritos, então você pode imaginar que eu gosto mesmo é de skate livre, o skatista contra o mundo. Enfim, essa é uma opinião minha, mas que serve de início para o pensamento contra-SL.

Aí veio esse campeonato milionário, recrutando os “melhores” skatista do mundo para competirem em provas que, segundo eles, imitam desafios de rua. Legal, pra começar, esses skatistas são melhores em que? Melhores em serem popular? Melhores em estarem em, pelo menos, dois grandes vídeos todo ano? Todos são ótimos skatistas, mas não consigo entender porque chamam fulano e não chama ciclano… Mentira, consigo sim: vou tomar o exemplo do Luan de Oliveira. O cara conseguiu seu contrato para o Street League e, ao mesmo tempo, teve que trocar de companhia de tênis pois a Globe, sua antiga marca patrocinadora, não era quem dava dinheiro pro SL. Ou vai dizer que não? Beleza que o time da Nike é um dos mais completos e mais caros da atualidade, mas essa troca, no momento em que foi feito, significou mais do que um simples giro de patrocínios, para mim. Ou Sean Malto, que adota “estratégias” em competições para ganhar sempre, resultando em patrocínios milionários, porque, com certeza, ele rende para a marca, está sempre no pódio e em evidência.

“O campeonato mais elite” elite do que? Elite da rua? É, pode ser… Elite do Berrics? COM CERTEZA! Já reparou como isso é estranho? Quem está no SL está no Berrics toda semana.

Aí vem o Rob Dyrdek com um discurso babaca de melhor campeonato de skate do mundo… sei lá, ele que se foda, um cara que pensa no dinheiro acima de tudo, fazendo alianças com empresas ridículas para que engendrem seu dinheiro no skate. Quem comanda o dinheiro do campeonato é um grupo chamado Park Lane Sports Investment Banking, que viram um potencial financeiro no skate, sem nunca terem andado de skate. Dyrdek mesmo já disse que quer que o Street League seja um UFC da vida, em termos de grandeza.

Mas o pensamento dele é atual. Vendo o Battle At The Berrics outro dia, vi uma chamada do Matt Miller (skatista da Street League, ok?) falando assim, em inglês: “sem por os pés no chão, sem grabs, aqui só valem manobras de verdade”. Que bosta. Cresci vendo John Cardiel e Fabio Cristiano dando grabs e no complies para um cara X vir falar uma merda dessas? O cara anda bem, mas se perde no pensamento, desrespeita seu próprio passado, suas origens.

O esporte hoje é muito baseado em dinheiro. Antes, quando falávamos que queríamos ser skatistas, éramos recriminados por olhares e falas de pais e responsáveis que achavam que não íamos ser porra nenhuma na vida. E de fato, financeiramente, não íamos mesmo, faríamos o que amamos, mas sempre na merda. Hoje, a primeira coisa que o pai faz quando o filho começa a andar é comprar-lhe um par de vans e um skate para que possa andar. É legal ser skatista hoje, dá dinheiro. Se for bom, dá dinheiro PRA CARALHO. Mas, perdeu a essência. Os moleques são, hoje, robôs, máquinas de manobra sem expressão facial. Acertam aquela manobra de videogame que, há 10 anos atrás, nunca imaginaríamos que poderia ser feita e resultado: nada, nem suor, nem sorriso, nem uma cerveja para comemorar. No máximo um high-five.

Tratam wallrides e no-complies como manobras bestas e sem valor. Todo mundo sabe dar nollie flip noseslide de back, mas poucos sabem um wallie… Beleza, cada um escolhe o que é melhor, o que mais lhe convém, mas vejo que existe um desrespeito com essas. Tipo quando o Chris Cole dá umas manobras tiradas da manga, com boneless e grabs envolvidos e recebe uma nota merda… Estou falando de Street League.

Nyjah Houston, Chaz Ortiz, Shane Oneill… robôs. Patrocínios: milhares, de todos os tipos, energéticos, carros, tênis da moda, fora a aparelhagem toda que vai do skate até o fone de ouvido. Mandam todas as manobras possíveis, first try.

Eu acho chato. Acho sem graça… E acho que abre espaço para marcas e consumidores nada a ver com nosso esporte. Monster Energy Drink, Red Bull, New Balance, Saucony… Todas essas estão vendo, no skate, um mercado muito promissor, o que, de fato, é. Os skatistas de hoje não estão nem aí pro que estão comprando, contanto que seus ídolos efêmeros usem aquela marca. A marca é legal se o cara da moda está nela, não importa se ela usa trabalho escravo ou se ela apoiou a proibição do skate em décadas passadas.

Pra falar que não gosto de campeonatos, gosto do Tampa. Aquela desorganizada organização, muitas pessoas num espaço pequeno, um galpão velho e mal arejado. Aquilo é skate. Nomes desconhecidos contra nomes saturados, todas as nacionalidades correndo o mesmo corre. Cada um faz seu rolê. Tem ano que ganha quem mais se dá bem nos quartes, e outro ano, quem mais se dá bem nos obstáculos de rua. O negócio é skate, quem andar de skate melhor ganha. A estratégia vai de cada um.

O negócio é tão “esportivo” que é capaz de, no futuro, competições de skate terem testes anti-dopping, o que faria 90% dos skatistas não participarem de nada. Eu não duvido disso…

Não gosto de regras… Todo mundo pula escada. Agora todo mundo anda na borda. Agora, quem foi melhor vai pra final que é num gap sinistro. Eu, se tivesse correndo, ia perguntar que hora que íamos andar na parte de fora do estádio, na rua. E tem pior: quando os caras dão uma manobra “só pra se garantir na pontuação”. Ah, vai pro caralho, Street League.

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