Guilherme Guimarães e os 10 anos de CityZen

O ano era 2013 e uma première acontecia na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. A marca era a Vibe Shoes, que tinha um time bem legal, no vídeo CityZen, dirigido por Guilherme Guimarães.

O CityZen foi um vídeo full lenght filmado em diversas regiões de São Paulo, trazendo uma proposta diferente do padrão skatista-música dos vídeos de skate. O diretor, o Guilherme, decidiu que cada skatista percorreria um caminho pelo centro de São Paulo, manobrando pelo trajeto, que era uma parada que ninguém estava fazendo na época. Pelo menos não tão roteirizado e pensado como o vídeo apresentara.

10 anos depois, a Vibe se extinguiu, o Gui trampa em outros projetos do skate brasileiro e o time envelheceu e cada um seguiu seu caminho na indústria. Mas lembrar do CityZen e assisti-lo de novo é algo que não perde sua juventude: o vídeo ainda é bem legal, criativo e tem manobras muito boas!

Na verdade, quem lembrou dos 10 anos do full lenght foi o próprio diretor, em seu instagram, e a gente trocou uma ideia com ele, uma década depois do lançamento, para saber o que ele acha do vídeo. Fala, Gui!

TROCANDO MANOBRAS: O Cityzen foi um vídeo de skate um pouco fora dos padrões de só serem videopartes; ele seguia um roteiro, pelo menos de localização, e o time tinha que manobrar ali naquele percurso. Como foi recebida essa ideia pelo público? Você sentiu que tinha gente esperando por videopartes mais tradicionais ou foi bem aceita a ideia? 

Guilherme Guimarães: Na época, me lembro que fiquei meio ressabiado em como as pessoas iriam aceitar. A ideia era diferente do “comum”, mas eu também acho que o skate é um lugar de experimentação. Acredito que quem entendeu o projeto gostou, inclusive os skatistas do time, pois todos eles abraçaram a ideia.

No dia em que o CityZen fez 10 anos, resolvi rever o vídeo e me deparei com um comentário bem legal de um ano atrás. O cara é de Maceió e veio até São Paulo refazer os percursos e descobriu que alguns picos não existem mais. É muito gratificante saber que um projeto que fiz há tanto tempo, ainda repercuta de alguma forma.

O vídeo foi uma ode a São Paulo, de certa forma, principalmente ao centro e região, que conecta um monte de pico de skate. Você já pensou em fazer um projeto parecido em outra cidade? Se sim, qual roteiro você seguiria dessa vez?

Não pensei e não gostaria! (risos). Só se fosse um projeto menor, porque deu muito trabalho planejar tudo e voltar inúmeras vezes em alguns picos durante três anos. Acredito que o resultado final é muito satisfatório, mas o feitio do CityZen, foi muito desgastante. O único pico que ainda volto com prazer é a Av. Paulista à noite, haha! Eu adoro aquele lugar.

Esse era o Gui na época do vídeo

O que você aprendeu fazendo o Cityzen e trabalhando com a Vibe que depois você levou para outros trampos e outros vídeos na sua vida? 

Acho que meu maior aprendizado foi entender que você tem que fazer tudo com as próprias mãos. Não adianta ficar esperando que algum milagre caia do céu se você não arregaçar as mangas e tentar fazer acontecer por você mesmo. 

O videomaker sempre tem papéis a mais do que só filmar, tem que ser psicólogo, ajudante, segurança, intermediador etc. Teve alguma situação maluca que você passou no Cityzen que você teve que ser mais do que só um videomaker?

Difícil relembrar de tudo o que rolou. Mas me lembro que ao filmar a abertura, nós queríamos tentar gravar São Paulo nas primeiras horas da manhã, com a cidade quase vazia. Fui inúmeras vezes ao Centro e a alguns outros lugares de madrugada, e uma vez, perto do metrô Tietê, o Esteban e eu quase fomos roubados. Eu estava totalmente imerso no viewfinder da câmera tentando pegar o melhor nascer do sol com a Super-8 e nem vi o que aconteceu. Mas basicamente o Esteban correu e me disse: “Gui, temos que sair daqui agora”. Foi o que fizemos.

Teve uma vez também que alguém elogiou o take que fiz do Murilo Romão remando nas faixas de pedestres na Paulista. Perguntaram que drone eu usei! (risos) Na verdade estávamos no parapeito de um prédio do nosso amigo Badir que morava lá na época. A câmera estava pendurada e eu gritava “vai” lá cima esperando que ele ouvisse lá embaixo. No fim, deu certo. Acho que não acordamos os vizinhos.

Quem trampa com skate tem mania de ser criterioso, perfeccionista. Já li histórias de gente que não curte a videoparte que fez ou o vídeo. Olhando pra trás, assistindo o vídeo, você curte? 

 Às vezes gosto, às vezes não. Às vezes assisto e fico só procurando todos os erros que cometi, porque acredito que podemos sempre evoluir. Outras vezes, tenho orgulho do meu trabalho.

Cityzen 10 anos depois. O que você mudaria nesse projeto? 

Nada. Foi o melhor que pude fazer naquela época com os recursos que haviam me dado e com as oportunidades que criamos também. Só gostaria de ter a cabeça que tenho hoje em dia, mas acho que isso faz parte da nossa evolução como seres humanos.

O que você acha que mudou no skate brasileiro nestes últimos dez anos? O que pra você melhorou e o que pode melhorar? 

Acho que a internet globalizou o mundo e consequentemente, o skate. Acho também que as produções áudio-visuais aqui no Brasil melhoraram muito por conta dos recursos e da facilidade que temos agora. É legal você ter uma super exposição nas redes sociais, mas quem sabe o que será daqui há 10 anos. 

Porém, uma coisa que não mudou é o legado que você pode deixar através de vídeos e vídeopartes. Acredito que isso seja algo que nunca ninguém poderá tirar de um skatista, pois sempre que posso rever um vídeo de 10 anos atrás (ou mais), eu vejo. O meu vídeo favorito é o Mindfield, da Alien Workshop, pois pra mim aquilo é poesia em forma de imagem. 

Então, acredito que não podemos nos atentar somente às redes sociais, precisamos pensar em qual legado queremos deixar pro futuro. No caso do áudio-visual do skate brasileiro, acho que é através de vídeos como o Duotone, Evolução da Espécie, Universus, Beats, CityZen, Veredas, e por aí vai. Acredito que esses sejam alguns dos registros mais importantes que documentem as diferentes gerações do skate brasileiro.

Feeble do Rafa Gomes, na foto do Renato Custódio

Dez anos depois, assista ao CityZen aqui:

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