Como Magenta ajudou a facilitar o game de manobras e dificultar o audiovisual no skate

Em 2010, uma marca francesa de shape começava a dar os primeiros passos audiovisuais no skate com Vivien Feil, Leo Valls e Soy Panday manobrando num promo chamado Microcosme. Era a Magenta com um street skate purinho, europeu e bem filmado. 

Anote tudo isso.

Em 2013, 3 anos depois, a marca lançava seu primeiro full lenght, o Soleil Levant. Diferente dos promos anteriores, esse aqui tinha outro foco. As manobras existiam, claro, afinal era um vídeo de skate, mas existia roteiro, ideias além do skate e imagens muito bem filmadas. De novo apareceu no texto esse fato porque, porra, é muito relevante pro que a gente está dizendo. 

Imagine que um powerslide aqui começaria a ganhar notoriedade e que um skatista como Leo Valls, que misturava manobras técnicas com essas mais criativas e diferentes, ganhava um destaque internacional bem grande andando em chãos bons e minipicos ao redor do mundo. E você se engana de pensar que, apesar de não ter um nollie flip crooked descendo um corrimão de 12, esses caras não teriam espaço. Tiveram e têm até hoje. 

A entrada das marcas europeias no game internacional de shapes (aqui leia-se majoritariamente Magenta, Polar e Isle) trouxe uma estética totalmente diferente da norte-americana da costa Oeste, que sempre priorizou o que era grande ou difícil. Tudo bem, skate pode ser tudo isso e a gente gosta bastante, mas aquele praticado no dia a dia é bem distante disso, pelo menos de maneira geral. 

Mas mesmo essas três sendo as grandes players do skate europeu dos anos 10 do século XXI, elas tinham diferenças entre si. A Isle era britânica, trazia picos difíceis e skate técnico e, diferente do full lenght de 2013 da Magenta, o Vase, de 2015 da Isle, era dividido por parte-música-skatista e, de certa forma, lembrava muito mais um vídeo da Alien Workshop do que um europeu qualquer. Já a Polar era mais artística nos vídeos, tinha um certo roteiro, mas a turma do Pontus era bem mais apegada ao nível de manobras do que os outros. Os vídeos da Polar dessa época, os promos e o full de 2016, “I like it here inside my mind, dont wake me this time” tinham o fator NBD bem presente, misturando manobras técnicas com criativas, picos insanos e skatistas que mesclavam 540 em bowls com wallies em double sets. 

A Magenta… Bom, a Magenta facilitou o game pra todo mundo, pelo menos nas manobras. Inegavelmente é mais fácil dar um powerslide com um pé como o Leo Valls ou fazer uma linha dando ollies subindo e descendo guias do que dar alguma manobra da parte do Hjalte Halberg ou do Tom Knox. 

Mas aí que entra a sagacidade dos caras, fazendo o foco ser outro: se as manobras não eram o principal, o vídeo, a produção, a filmagem, os roteiros, as ideias, enfim, tudo isso era primeiro plano para o que viria a ser a sessão de skate depois, seja dando slides num chão de mármore ou dando pole jams em Paris no meio da multidão. 

A Magenta redefiniu a filmagem de skate, trouxe o foco para a criatividade e isso foi um alívio para um skate que estava tomando, cada vez mais, caminhos mais absurdos de manobras e de produção. Vale lembrar que o We Are Blood  é contemporâneo dos caras, de 2015, e foi pra um caminho totalmente contrário, deixando o coração de skatistas divididos entre “gostei porque é uma puta produção” e “não gostei porque é uma puta produção”.

A Magenta influenciou uma geração de skate a pensar em diferentes formas de se andar em picos, dando ressignificação para espaços que antes a gente nem olhava e botando o foco no jeito de como as coisas eram mostradas, dando pro videomaker um peso muito maior do que só ser o cara atrás da câmera. Colin Read foi esse cara, junto do australiano Josh Roberts, as pessoas que pensaram no visual dos vídeos da Magenta e sua participação nesse cenário foi fundamental para essa década de skate. 

Vale ressaltar também o uso da VX1000, que estava começando a sofrer com a ação do tempo, com a entrada de câmeras 4K, com a burocracia de filmar analogicamente e com a preferência de marcas e corporações por imagens em HD. O que essas marcas fizeram com as câmeras da Sony, seja a VX1000 ou outra similar, foi colocá-la num patamar de entidade visual do skate, como se só ficasse bom ou fosse “muito skate” se fosse com ela. Com certeza você já deve ter ouvido a frase “imagina essa aqui filmada de VX?” e, na nossa cabeça, até as manobras mais simples ficariam style com a estética da câmera. Isso sem falar na lente, na MK1, que junto da VX, se tornaram a dupla favorita e mística do skate mundial, tendo legados eternizados em vídeos, gráficos, tatuagens e afins. 

Não é coincidência que os vídeos da Magenta trouxeram tudo isso. 

Em 2013 teve o Panic in Gotham, da Magenta, filmado pelo Colin e era o lado americano da marca em ação nas ladeiras e ruas dos EUA. Anos depois, em 2016, Colin Read assinava o Spirit Quest, que aí sim trazia sua estética criativa e peculiar para uma produção totalmente americana, já que a Magenta e o skate da Costa Leste se amaram desde a primeira vista. Isso também foi importante para que o skate nova-iorquino, bem mais sobe-e-desce-guia e menos impactante de tamanho do que o da California, ganhasse força e notoriedade num cenário novo e, novamente, colocasse os EUA como destino desejado para skatistas do mundo todo colarem. 

Ok, a gente tem que dar o braço a torcer e dizer que não necessariamente é fácil dar as manobras que os caras da Magenta dão nos vídeos que fazem. Não é isso. Mas a influência que a marca trouxe foi além do ato de manobrar, colocando as artes como pontos de atenção e mudando os temas que apareciam nos vídeos de skate de maneira geral. 

Com a Magenta, o jazz ficou forte de novo nos vídeos, os shapes ganharam mais artes legais do que só logos estourados e os vídeos ganharam status de influência como um Mouse ou um Virtual Reality ganharam nos começo dos anos 90. De fato, nos anos 10 deste nosso século, teve skate pra um monte de estilos. E que bom que a Magenta trouxe esse skate possível e visualmente bonito pra gente poder se inspirar. 

O último da Magenta é o Just Cruise 2 e você pode ver por partes no Youtube

  1. Eu Sempre falei pros cara, vídeo de Skate bem filmado, editado e com uma música que combine com o rolê a manobra nem importa tanto se é um ollie na guia ou um nollie hell numa escadaria. As marcas europeias dos anos 2010 vieram pra mostrar isso. Tudo é Skate 🛹

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  2. Mto naipe a marca, as artes do soy (na rua e nos shapes), os vídeos… Realmente é uma parada diferente e faz lembrar q o legal do skate ainda é andar de skate!

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